No vasto e imaginativo mundo de One Piece, poucos elementos são tão fundamentais para a engrenagem da narrativa quanto as Akuma no Mi. Idealizadas por Eiichiro Oda, essas “Frutas do Diabo” funcionam como um catalisador de caos e aventura, concedendo habilidades sobrenaturais imediatas a quem tem a coragem — ou a imprudência — de consumi-las. O pacto, no entanto, é severo: ao ganhar poderes que desafiam a lógica, o usuário perde permanentemente a capacidade de nadar. Em um cenário dominado por piratas e batalhas navais, tornar-se uma “âncora” é uma vulnerabilidade tática imensa, agravada pela existência do Kairoseki, um mineral raro capaz de anular esses poderes e replicar a fraqueza do mar.
A complexidade dos poderes místicos
A mística em torno dessas frutas não se limita apenas à troca de liberdade pela força; ela se estende a uma categorização complexa que dita a hierarquia de poder na obra. As do tipo Paramecia, embora sejam as mais comuns, oferecem uma variedade imprevisível de dons, permitindo desde a alteração da estrutura corporal até a criação de substâncias, como exemplificado pela Mochi Mochi no Mi de Charlotte Katakuri. Já as frutas do tipo Zoan focam na potência física, permitindo transformações animais. É o caso de Tony Tony Chopper, que ganhou consciência humana, e do formidável Rob Lucci, com sua forma de leopardo. Dentro desta categoria, ainda existem as raríssimas Zoans Ancestrais, que evocam a força bruta de criaturas extintas, como dinossauros.
O tropeço de um gigante da direção
Enquanto a mitologia de One Piece continua a fascinar gerações, um nome intrinsecamente ligado à história da franquia enfrenta um momento delicado em sua carreira solo. Mamoru Hosoda, diretor aclamado que já comandou o longa One Piece: Baron Omatsuri and the Secret Island e foi indicado ao Oscar por Mirai, retornou aos cinemas com seu novo projeto, Scarlet. Contudo, a recepção não condiz com o seu histórico estelar. Relatórios da indústria indicam que o filme está tendo um desempenho desastroso nas bilheterias japonesas, com salas vazias e críticas severas ao roteiro.
Desempenho abaixo das expectativas
Os números iniciais de Scarlet pintam um cenário sombrio. Apesar de contar com a terceira maior distribuição do ano no Japão, atrás apenas de gigantes como Demon Slayer e Detective Conan, o filme arrecadou modestos 61 milhões de ienes em seu dia de estreia. A taxa de ocupação, um indicador vital para a longevidade de uma obra em cartaz, ficou abaixo de 5% no lançamento, com sessões de sábado — tradicionalmente o horário nobre para animes — operando com menos da metade da capacidade. Nas plataformas de avaliação, o contraste é gritante: o filme amarga uma nota de 2.9, ficando muito atrás de concorrentes diretos que ultrapassaram a marca de 4 estrelas.
Crise criativa e mudanças na equipe
A raiz do problema parece estar na execução narrativa e visual. Tentando adaptar uma trama de vingança inspirada em Hamlet, Scarlet foi rotulado por parte do público como “chato” e sem novidades, com alguns espectadores chegando a classificá-lo como o pior filme de 2025. Visualmente, o estilo de animação híbrido dividiu opiniões, sendo considerado pouco atraente por uma parcela da audiência. Analistas e fãs de longa data atribuem essa queda de qualidade à ausência da roteirista Satoko Okudera, antiga parceira criativa de Hosoda em sucessos como Summer Wars. Desde que o diretor assumiu integralmente os roteiros, nota-se um declínio na coesão das histórias, culminando neste lançamento que, ironicamente, deveria elevar a imagem do Studio Chizu, mas acabou se tornando um ponto de interrogação na carreira do cineasta.